No Ombria Resort existe um compromisso real com a responsabilidade ambiental que esteja integrada com a envolvente natural e a comunidade local.
Hoje apresentamos Dália Mogo, apicultora em Salir. Desde explicar a importância dos polinizadores para o ecossistema às curiosidades mais interessantes sobre abelhas ou as medidas que podemos tomar a fim de preservar e garantir o seu habitat natural.
Olá Dália,
Conte-nos um pouco sobre a sua vida e as suas paixões!
Olá!
Eu sou a Dália, tenho 45 anos. Nascida e criada cá na serra, Salir fica mais ou menos a 17 km de Loulé, portanto estamos mesmo na serra Algarvia - Serra do Caldeirão, que é o que dá nome ao nosso mel: o mel da serra do Caldeirão.
Existimos há sensivelmente 23/24 anos. Começamos com um pequeno núcleo de apiários, com os primeiros projetos e entretanto temos desenvolvido 5 projetos do Prodere e do IFADAP, e temos vindo a crescer como apicultores cá no interior do Algarve.
Crescidos cá, gostamos da serra e das gentes do interior. Morámos em Loulé mas voltámos para aqui. A apicultura é uma paixão do meu pai, do meu sogro, do meu marido. Eles são os culpados!
O meu pai e o meu sogro inspiraram o meu marido e ajudaram-no a aprender a arte do apicultor. O Alcino, meu marido, sempre foi muito curioso e trabalhou com o pai durante algum tempo e como o pai tinha outra profissão, achou que isto seria uma boa ideia de negócio.
Com muita dedicação e esforço temos conseguido fazê-lo!
Além de gostar da parte mais comercial, gosto de ajudar no lado da execução, na cera, na limpeza dos quadros, nos arames, na pintura das colmeias, na mudança. Nós fazemos transumância, que consiste em levar as colmeias de um sítio para o outro em busca de flora da estação, daí termos tantas diferenças de méis.
O mel de alfarrobeira é de uma zona e de uma época, o mel de rosmaninho é de uma zona e de uma época, e da laranjeira, assim por diante.
Então isso permite ter mel durante todo o ano?
Sim, podíamos precisamente ter colheita várias vezes ao ano porque retirávamos o mel as abelhas em cada floração, em cada estação própria de cada floração.
Qual a importância dos apicultores?
Os apicultores enquanto cuidadores das colmeias têm todo o interesse e fazem o melhor possível para aumentar o número efetivo de abelhas e cuidar da sua saúde, não deixando que morram nem que sejam ameaçadas por outras pragas. É uma parceria amigável.
Elas produzem o nosso mel, mas são “chamadas” a produzir um pouquinho mais para que o excedente seja retirado por nós.
Quais são as medidas a ter em consideração pelos apicultores?
Seria bom termos em atenção ao que utilizamos no tratamento das nossas agriculturas porque é cada vez mais um problema termos vários fitofarmacêuticos que são utilizados para o tratamento das várias espécies (árvores ou legumes), que provocam a mortandade das colónias e dizimam efetivamente colónias inteiras se for o caso, se não se tiver cuidados com os pesticidas utilizados ou controladores de parasitas.
É essencial que haja uma simbiose, um entrosamento entre os vários sistemas. Os agricultures têm N plantações, os apicultores têm um trabalho também muito importante, era bom que houvesse um trabalho conjunto para que fosse possível coabitar.
Como é que é feita a gestão do mel produzido nas colmeias?
O que nós fazemos é fomentar a criação das abelhas. Elas vão aumentar a produção das abelhas, há uma maior postura e haverá maior criação, o que levará a uma maior produção de mel, de onde retiramos o excedente, nunca retirando na totalidade a produção de mel daquela colmeia. Deixamos sempre mel suficiente para que a colmeia este confortável e saudável sempre.
Se deixasse de existir intervenção humana, falando no contexto do mundo atual, numa suposta exploração de abelhas, consideras que o número de abelhas diminuiria, ficava igual ou aumentaria?
Sendo um pouco relativo, talvez diga que diminuiria um pouco, porque o processo normal de criação de abelhas seria mais lento. A intervenção do homem é mais negativa, pela poluição, ruído, a diminuição do espaço verde que as abelhas adoram. Nem sempre funciona mas é importante que não se deixe de explorar esses detalhes.
A abelha põe por dia 5000 ovos, têm um tempo de vida numa colmeia até 5 anos, se tudo correr bem, e vai escolhendo a melhor maneira de postura de ovos; vai-se organizando, vai evoluindo na sua sabedoria, na forma como ela estrutura a sua colmeia. Estamos a falar numa estrutura social muito avançada.
Qual a curiosidade mais interessante das abelhas?
É interessante, é peculiar, é uma das muitas da extrema organização delas, da extrema sabedoria, esta é aquela que me deixa perplexa. Os zangãos na colmeia servem absolutamente para acasalar uma única vez no voo nupcial com a rainha. Elas podem acasalar várias vezes mas no processo de postura dos ovos, assim que a criação vai sendo escolhida e que vão vendo quais são as melhores abelhas, elas próprias vão escolhendo o sémen do zangão mais forte e robusto e que faz com as abelhas sejam mais ou menos trabalhadoras.
Ela, rainha, escolhe o sémen que vai utilizar para a postura dos ovos, portanto os “homens" na colmeia são vistos como um mal necessário!
De que maneira são os polinizadores essenciais para a manutenção do ecossistema?
As abelhas são responsáveis por mais de 80/85% da polinização da maior parte dos alimentos que nós humanos consumimos: desde grãos, fruta, legumes. Elas são responsáveis, enquanto trabalham na recolha do pólen, são elas as responsáveis pela polinização da flora. Sem flora, os humanos não vivem, nem os animais. Portanto esse pequeno bichinho é o responsável pela nossa alimentação e pelo nosso ecossistema e há que reconhecer que isso é muito importante. Se eles não vivem nós também não.
O que é que o Dia Mundial das Abelhas signfica para si?
Este dia é ver reconhecido o trabalho dos apicultores porque fazem com que as abelhas trabalhem e ajudam ao desenvolvimento deste setor mas a apicultura é muito mais do que isso. Não é apenas o negócio que fazemos em volta de, mas a importância toda que esse ser tão pequenino como uma abelha tem no nosso ecossistema. É o ver reconhecido efetivamente esse trabalho que estes bichinhos tão importantes, inteligentes e organizados têm no nosso ecossistema. Sem eles nada feito!
Neste momento teremos cerca de 500 colmeias. O efetivo já foi mais, já foi menos mas neste momento rondamos as 1500. O nosso objetivo era alcançar as 2000 dentro de 2/3 anos, atendendo às intempéries e às doenças que assolam os apiários assim como determinadas mudanças climatéricas que têm vindo a fazer com que não seja muito fácil lidar com as colmeias e fazê-las vingar.